Artigo

História deste Papel

Fiquei parado a olhar para este papel, a ver a historia deste papel, que uma vez não foi papel, que não nasceu papel. Talvez como tudo na vida, quando nascemos, não sabemos o que nos espera, apenas sabemos que é o início de uma história em que, no segundo seguinte ao momento que nascemos, já podemos dizer “era uma vez”.

É uma história que passa, enganei-me, está a passar neste momento, olho para o relógio, vejo o ponteiro a andar, ao som de um “tic tac” para me fazer lembrar que o segundo que passou não volta, tudo tem um único sentido, não posso fazer um programa de computador que me acorde no segundo em que comecei a escrever este texto, ou quando escrevi esta vírgula que acabei de apontar neste papel. 

O tempo não passa só fora da janela da nossa casa, as folhas das árvores caiem, já caíram, e o mais provável é que voltem a cair, outras, mas não estas.

Os troncos das árvores sustentam toda essa folhagem temporária, no seu interior têm recursos minerais, água, mas de fora ninguém consegue ver essa água que dá vida, que as raízes um dia captaram do subsolo. Quantas vezes alguém se preocupou em regar essa árvore no Verão quando mais precisava de sobreviver? Quantas vezes não serviu de sombra a tanta gente naquele banco instalado no jardim, mas ninguém reparou que existia ali uma árvore cheia de folhas?  

A verdade é que decerto regou-se sozinha, com as suas lágrimas que um dia foi derramando, e que derrama no Outono, quando já ninguém precisa das suas folhas para aproveitar a sua sombra.

Uma coisa é certa, todos os anos a árvore floresce na Primavera, enganei-me, floresce todos os dias, se olhares com atenção verás algo que não cabe nos troncos da vida, que sustenta até as próprias raízes daquela árvore, que baloiça ao som do tempo, que faz o tempo tremer de susto, que faz até as ervas que estão ali junto se sentirem diferentes, a razão pela qual aquela árvore tem orgulho de dizer “era uma vez” e acima de tudo “será uma vez”.

O que será? Não sei, mas eu compreendo aquela árvore, sinto o mesmo e sei porquê. Volta a olhar para o teu relógio, deixa as horas para segundo plano, olha para o vidro do relógio apenas, estás a ver um reflexo de alguém nesse vidro? Encontraste a justificação.

5 JAN, 2017 0

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